A realidade mostra certa contradição ao se analisar o mercado nacional. De um lado, os profissionais que buscam por uma nova colocação e do outro, as empresas que se mostram apreensivas porque procuram por talentos que atendam às expectativas do negócio.
A situação parece ficar ainda mais complicada quando a vaga que surge é direcionada a quem está dando os primeiros passos na carreira e ainda não concluiu a sua formação, ou seja, contratar estagiários. Afinal, eles não possuem experiência na área e precisam receber um aprendizado que não se encontra nem nos livros e tampouco nos meios acadêmicos. Mas, realizar a contratação de um estagiário é realmente uma ação complicada para os selecionadores? Será que contratar esses talentos que ainda não foram descobertos requer peculiaridades do processo? Que valor os estagiários têm para agregar às organizações? Para responder essas e outras questões, o RH.com.br entrevistou a psicóloga Luiza Lopes, que faz parte da equipe da People On Time e é responsável pela condução dos Programas de Estágio realizados pela consultoria, desde o recrutamento até a entrega dos selecionados aos clientes. Segundo ela, uma boa seleção de estagiários deve pautar-se na aproximação do universo dessa geração nova que se prepara para entrar no mercado, sem que o selecionador se afaste da seriedade e da importância que deve existir em qualquer processo seletivo. "É preciso entender como essa geração identifica-se e atribui valor às coisas e, principalmente, saber o que eles buscam nas novas experiências garante um olhar mais assertivo na hora de avaliá-los", pondera. Confira a entrevista na íntegra com Luiza Lopes e faça uma análise se sua empresa está ou não dando a devida atenção àqueles que ingressam no mercado. Boa leitura!
RH.com.br - O processo de R&S de estagiários requer os mesmos cuidados de um procedimento direcionado para a contratação de um profissional efetivo?
Luiza Lopes - Sim, é muito importante que se considere a seleção de um estagiário com a mesma importância e o mesmo comprometimento que se dedica à escolha de um profissional efetivo. Isso porque estamos falando hoje da captação de futuros talentos, que a maioria das empresas antenadas com a nova realidade organizacional, consegue enxergar como seus futuros gestores. A captação, o desenvolvimento e a retenção desse talento podem ser tão vantajosos para empresa como a escolha de um bom profissional já formado.
RH - Quais os principais diferenciais do R&S de um estagiário de processos com foco em profissionais formados e com experiência no mercado?
Luiza Lopes - A diferença pode ser traduzida justamente na palavra ‘experiência'. Deve-se entender que a vivência de um candidato ao estágio quando comparada com a experiência de um profissional formado faz toda a diferença da condução dos dois tipos de processos. Para a seleção do primeiro é preciso investigar seu potencial de retorno à empresa, através de situações diversas em que ele soube demonstrar habilidades que serão interessantes no meio empresarial como, por exemplo, iniciativa, foco, criatividade, comprometimento e entrega. Já na seleção de um profissional formado pode-se exigir dele a comprovação dessas mesmas habilidades em experiências organizacionais, visto que ele já teve oportunidade de vivenciá-las.
RH - Quais os cuidados mais relevantes durante uma seleção de estagiário?
Luiza Lopes - Uma boa seleção de estagiários deve pautar-se na aproximação do universo dessa geração sem se afastar da seriedade e da importância que deve existir em qualquer processo seletivo. Entender como essa geração identifica-se e atribui valor as coisas e, principalmente, saber o que eles buscam nas novas experiências garante um olhar mais assertivo na hora de avaliá-los. Criar um ambiente confortável, porém com a competitividade necessária em uma dinâmica de grupo possibilita saber quem é quem, os papéis que ambos desempenham na relação com o outro e com suas responsabilidades, bem como saber onde eles querem chegar.
RH - Como a senhora compreende que deve ser a relação entre empresa-estagiário?
Luiza Lopes - Entendo que a relação entre empresa e estagiário deve ser baseada no sentimento de descoberta e na possibilidade de explorar procedimentos e novas tendências. Ambos têm que ganhar nessa interação, a empresa oxigena-se do frescor intelectual e da ousadia inerente à juventude e o estagiário absorve a importância do passo a passo, da regra e do como funciona na prática o que os livros e os professores tanto enfatizam. Mas é claro que para essa parceria dar certo é necessária uma sinergia de ideias, ou seja, o estagiário tem que se identificar com os valores e a cultura dessa empresa e, em contrapartida, a organização deve saber propiciar ferramentas de desenvolvimento a esse novo colaborador. Vale ressaltar que esse ‘casamento' começa já no processo seletivo.
RH - Em sua opinião, o que se tornou indispensável em um processo de seleção de estagiários?
Luiza Lopes - Desafio e dinamismo. Não dá mais para apostar em uma seleção meramente tradicional. Com certeza muitos elementos em um processo seletivo são essenciais e insubstituíveis, como o olho no olho e a observação das competências, mas a forma de se vivenciar isso deve exigir tanto dos selecionadores quanto dos candidatos certa dose de suor e ousadia no sentido de quebrar paradigmas na busca de novas soluções para problemas que são enfrentados no dia a dia de uma organização. Cada empresa exige uma postura um modus operandi e cabe a nós, selecionadores, fazer a conexão entre esses dois universos.
RH - A senhora aconselha a aplicação de alguma ferramenta específica na seleção de estagiários?
Luiza Lopes - Como já mencionei, cada cliente exige uma ferramenta específica que irá propiciar uma melhor observação dos candidatos em sua melhor nuance. Devemos ter a preocupação de dar sempre a ‘vantagem' ao candidato, criar situações para que o mesmo demonstre seu potencial, seu máximo aproveitamento e assim conseguiremos validar seu desempenho de maneira mais justa e alinhada aos objetivos da empresa em questão.
RH - O que, em hipótese alguma, deve ocorrer durante esse processo?
Luiza Lopes - Pré-julgamentos. Quando se fala em seleção de estagiários deve-se ter em mente a necessidade de suspender alguns juízos para explorar potenciais em desenvolvimento. Trata-se de uma geração constituída de várias ‘tribos' e dentro delas é possível pinçar talentos promissores e com capacidade de se adaptar e gostar da experiência em uma estrutura padronizada. Aceitar e introjetar procedimentos, não precisa necessariamente ‘ter aquele velha opinião formada sobre tudo'.
RH - Quem deve conduzir o processo seletivo de um estagiário é unicamente a área de RH ou a participação do gestor torna-se fundamental?
Luiza Lopes - A parceria do RH e do gestor requisitante possui uma importância indiscutível e é essa interação que garante o sucesso da melhor escolha. Essa é a função do RH estratégico, aproximar e facilitar a toma de decisão.
RH - Onde ou através de quais recursos as organizações estão localizando estagiários com potencial destacado?
Luiza Lopes - Novas ou tradicionais fontes de captação desses talentos são sempre bem-vindas. Ter uma boa relação e uma aproximação com as instituições de ensino nos seus mais variados segmentos como, por exemplo, coordenações de cursos, diretórios acadêmicos, centrais de estágio ainda são excelentes caminhos, mas não os únicos. Essa geração vive conectada e transmite uma informação de um para o outro na velocidade da luz, ou seja, se inserir nesse universo promovido pelas redes sociais torna-se essencial e não mais um diferencial.
RH - O que a empresa precisa oferecer ao estagiário, para que durante a sua permanência ele se torne um talento comprometido?
Luiza Lopes - Não existe fórmula mágica para se reter talentos comprometidos, mas uma infinidade de fatores que se complementam. Cada gestor, na supervisão de seu estagiário deverá observar quais elementos motivam e trazem maior resultado. A escuta dos questionamentos do estagiário, o feedback assertivo sobre seu rendimento, o espaço para estimular novas ideias e a atribuição de responsabilidades e desafios podem ser bons indicadores nesse sentido.
RH - Hoje, quais são as expectativas mais comuns que os estagiários esperam das organizações?
Luiza Lopes - Essa geração espera fazer a diferença, são motivados por desafios e pelo reconhecimento. Hoje ter a carteira assinada logo após o término do contrato de estágio pode não ser a única ambição desses jovens. A possibilidade de ganhar novas atribuições ou abrir portas para novas experiências, dentro da empresa, em outras organizações ou até mesmo no exterior instiga esses estagiários a querer cada vez mais.
RH - Que orientações a senhora deixaria para os profissionais de Recursos Humanos que estão iniciando um programa com vistas à contratação de estagiários?
Luiza Lopes - Estejam abertos a escutar esses jovens, eles sabem muito bem o que querem e o que não gostam. São muito acessíveis e até mesmo em uma conversa informal podemos entender o que torna uma experiência para eles interessante e estimulante. Sendo assim, por que não pensarmos em processos seletivos com a cara dessa geração?
Por: Patrícia Bispo
Formada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap
Formada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap
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