Por mais que o profissional ofereça uma entrega diferenciada à organização e consequentemente tenha um desempenho acima do esperado, ele nunca conseguirá desvincular-se completamente de suas emoções. Mesmo aqueles indivíduos que se mostram mais "ásperos" a determinados assuntos que pedem um pouco de sensibilidade já demonstram uma emoção, mesmo que seja negativa. Ou seja, não dá para separar o ser humano do emocional, pois o homem não é uma máquina programada para atuar a médio ou a pleno "vapor". Diante disso, as organizações passaram ter uma visão diferenciada e holística dos seus colaboradores, pois em determinado momento, alguém apresentará sinais de necessita de ajuda. E quando esse profissional exerce uma função estratégica na empresa a atenção precisa ser redobrada, uma vez que o desempenho de todo o time pode ser comprometido.
Neste momento, o profissional de Recursos Humanos precisa estar preparado não para dar suporte psicológico ou psicoterapêutico, mas sim ter a sensibilidade e a competência para identificar quando e qual trabalhador precisa receber ajuda. De acordo com Erika Pallotino, psicóloga que atua no departamento de Psico Oncologia do Grupo COI, o profissional de RH deve estar sempre atento às manifestações emocionais presentes no ambiente de trabalho ou ao retorno de um profissional que vivenciou algum tipo de perda ou adoecimento. "Pois, a partir da experiência da dor vivida por aquela pessoa alguma coisa mudou em sua vida e isso deve ser considerado. Esse é um agente complicador para o processo de trabalho quando não escutamos e validamos a dor que um colaborador expressa", pondera.
Em entrevista concedida ao RH.com.br, Erika Pallotino, uma profissional que vive constantemente com pessoas que sofrem desgastes emocionais a partir de perdas e de doenças, enfatiza, ainda, de que forma prática a área de Recursos Humanos pode dar suporte às emoções de quem dá vida às organizações. Esse é um momento para você parar e refletir como a empresa em que você atua lida com o emocional dos talentos. Tenha uma agradável leitura!
RH.com.br - A senhora defende a presença do RH nos momentos mais delicados e que são vivenciados pelos colaboradores. Por que o RH é tão valioso para o emocional das empresas?
Erika Pallottino - É muito da função do RH lidar com aquilo que é humano no ambiente corporativo. A visão de que o ser humano é atravessado por seus conflitos e questões emocionais, é muito importante. Nossos colaboradores são, acima e antes de tudo, pessoas com uma biografia, onde carregam perdas, lutos, dores e conflitos. Não podemos deixar de considerar essas questões, especialmente o profissional que atua na área de RH.
RH - Um dos pontos que a senhora foca é a importância do RH fazer-se presente nos mais diversas fases de instabilidade emocional de um profissional. Esse papel cabe apenas a um RH-psicólogo ou a um RH experiente pode dar esse suporte emocional?
Erika Pallottino - É importante pontuar que não é função do RH dar suporte psicológico ou psicoterapêutico, mas identificar quando e qual trabalhador precisa de ajuda. É importante que o profissional de RH esteja atento às manifestações emocionais no ambiente de trabalho ou ao retorno de um profissional que vivenciou algum tipo de perda ou adoecimento. A partir da experiência da dor vivida por aquela pessoa alguma coisa mudou em sua vida e isso deve ser considerado. É um agente complicador para o processo de trabalho quando não escutamos e validamos a dor que um colaborador expressa. Ao mesmo tempo, é algo muito delicado em virtude do temor que muitos trabalhadores sentem, por acreditarem que ao se expor poderão parecer frágeis ou vulneráveis.
RH - Podemos afirmar que o RH é o centro emocional da empresa ou pelo menos, o suporte para as emoções das pessoas que nela atuam?
Erika Pallottino - O RH primordialmente deve ser o espaço onde o sistema emocional tenha espaço e voz. No entanto, penso que as lideranças devem também ter esse olhar de considerar os aspectos emocionais do trabalhador, por isso é necessário treinamento e familiaridade com essas questões. O RH deve, sempre que possível, fomentar questões que envolvam a subjetividade e o emocional nas corporações. Incorporar esse olhar é uma ação acima de tudo profilática e promotora de saúde psíquica.
RH - Como um RH pode aproximar-se e conquistar a confiança de uma pessoa que enfrenta uma fase pessoal delicada e que compromete a sua performance do profissional?
Erika Pallottino - Momentos delicados deixam as pessoas frágeis e vulneráveis, mas também, muito vigilantes e ameaçadas. Dessa forma, elas percebem quando a aproximação é ou não genuína, com o intuito de lhe ajudar ou voltá-la a enquadrá-la no sistema. Portanto, delicadeza e sensibilidade são fundamentais. A aproximação e a confiança não devem acontecer pontualmente, para "apagar o incêndio" ou resolver uma ação e só, mas se estabelece através de um trabalho de continuidade, pela disponibilidade e aproximação cotidiana do trabalhador. Um RH que promove ações contínuas e propicia um espaço de escuta e disponibilidade ao trabalhador, certamente será procurado em momentos assim e será bem recebido quando abordar um profissional que viva alguma fase difícil.
RH - A senhora acredita que uma empresa que acolhe emocionalmente seu profissional pode tornar-se uma "segunda família"?
Erika Pallottino - Essa é mais uma questão delicada e polêmica. Trabalho é trabalho, família e laços de amizade são coisas diferentes. É complicado quando tudo se mistura e não existe uma separação e um entendimento sobre os lugares e os espaços para lidar com as emoções. Uma empresa é um lugar onde você trabalha, mas que também vai ter afinidade com algumas pessoas e poderá elegê-las para participar de sua vida pessoal. Mas o trabalho não deve ser uma extensão da rede familiar. Corre-se o risco de posturas pessoais atravessarem os processos laborais, criando desconforto e dificultando as relações. A empresa pode e deve ser disponível, atenciosa e cuidadora, mas delimitando qual o seu papel e o seu lugar para a vida do seu trabalhador. A neutralidade é protetora.
RH - Uma organização que dá suporte às emoções do profissional conquista o comprometimento deste talento?
Erika Pallottino - Sem dúvida alguma. Essa empresa, quando valida as emoções e abre espaço para a escuta das questões de seu funcionário, passa a seguinte mensagem: "Eu me importo com você". O bem-estar e o conforto psíquico estimulam a criação, a produção, o cumprimento de prazos e metas, assim como a angústia, o estresse, o desestímulo empobrecem o nosso sistema cognitivo, dificultando a realização das tarefas. Dar suporte não é fazer terapia, mas ampliar o olhar para quem humano. Olhar para o trabalhador como máquina produtiva não tem mais vez nas corporações.
RH - Em sua opinião, as empresas estão tendo mais dificuldade em criar laços emocionais com seus profissionais?
Erika Pallottino - Não, pelo contrário. Percebo que cada vez mais estamos podendo discutir questões como essa. Essa entrevista é um pouco isso. Cada vez mais falamos da importância dos laços emocionais, da criação de vínculos, do lugar emocional do trabalhador, da morte e do luto nas empresas. Todos nós trabalhamos e ao mesmo tempo perdemos coisas, pessoas, sonhos. Passamos por rompimentos e separações, enfim, vivemos e sentimos, trabalhamos e sentimos. Somos mais do que as tarefas que executamos, do que o papel social que ocupamos no ambiente trabalho. Somos também o trabalho, mas não apenas o trabalho. As grandes companhias e as gestões de sucesso olham para esses aspectos e criam produtos e ações que promovam espaços onde a subjetividade do trabalhador possa ser valorizada.
RH - Então, existe uma tendência no mercado, para que as organizações deem cada vez mais apoio emocional aos seus talentos?
Erika Pallottino - Sim. Como falei anteriormente, é praticamente impossível que um trabalho de RH não considere hoje essas questões emocionais. Esse foi um grande avanço na forma de gerir pessoas e talentos.
RH - A competitividade excessiva seria um fator inibidor, para que as pessoas soltem suas emoções no ambiente de trabalho?
Erika Pallottino - Sim, muitas pessoas têm receio do que é falar ou expor emoções, sentem-se expostas e, às vezes, podem se sentir perseguidas. Um trabalho que vise a expressão emocional tem que ser muito bem pensado, estrategicamente estudado. É um grande risco realizar esses trabalhos, por isso o cuidado e o zelo na avaliação, na preparação e no entendimento da demanda da corporação. Há muita competição no mercado, as dificuldades de relações interpessoais são um ponto comum, por isso em situações assim existe uma atmosfera emocional de muita defesa.
RH - Há pessoas que mantêm um relacionamento tão forte com o trabalho que se tornam um workaholic. Quando isso é percebido pelo RH, como se deve trabalhar a relação empresa-funcionário?
Erika Pallottino - Para esse tipo de pessoa, trabalhar é parte de sua identidade, trabalhar é quem ela é. Sem o trabalho é como se a pessoa perdesse as suas referências e a sustentação psíquica. Existem casos bem sérios e um trabalho nesse sentido é muito importante, especialmente em situações que envolvam adoecimento, aposentaria e desligamento. Algumas pessoas podem não suportar a ausência do trabalho. A promoção de espaços como workshops, dinâmicas vivenciais onde se trabalha o que está na vida da pessoa além do trabalho, o que somos apesar do lugar que ocupamos em nossas atividades laborais, faz o trabalhador pensar sobre sua vida e suas escolhas. Como disse, somos mais do que o nosso trabalho e pensar assim é abrir espaço para a saúde emocional. Saúde emocional é uma premissa básica para o sucesso profissional. O burnout está aí para nos mostrar o que a fadiga e a exaustão emocional podem causar aos trabalhadores.
Fonte: rh.com.br
Comunicação LCA
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