quinta-feira, 27 de junho de 2013

Para se chegar à perfeição, é preciso caminhar pela imperfeição

Roberto Shinyashiki



Durante toda a sua vida, o ser humano é passível a cometer erros. Isso é evidenciado desde a infância quando a criança começa a dar os primeiros passos e na primeira tentativa tomba e cai com bumbum no chão. Depois de algumas tentativas e na expectativa de vencer o obstáculo, logo os pais veem o pequeno dando os primeiros passos e na sequência, correndo pela casa. Na adolescência, somos impelidos por novas descobertas e muitos jovens, através dos erros, passam a discernir o que teoricamente é bom ou não para eles. Na fase adulta, outras experiências passam a ser vivenciadas, inclusive no ambiente de trabalho.

E é justamente nesse momento que os talentos revelam-se às organizações e passam a ganhar destaque, porque ousaram a arriscar, a apresentar suas ideias. E esse processo que inclui o aprendizado também é passível de ser acometido de falhas. Mas, será que as empresas e os próprios profissionais estão permitindo-se errar, diante de um mercado tão competitivo? O erro realmente faz parte da aprendizagem, independentemente do nível hierárquico que o profissional exerça na organização? Para Roberto Shinyashiki, escritor, palestrante e doutor em Administração de Empresas, pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, as boas empresas levam em consideração a possibilidade dos erros e os aceitam como parte do processo de evolução do capital intelectual. Em entrevista concedida ao RH.com.br, Shinyashiki afirmou que o profissional consciente aceita suas imperfeições e considera o erro como uma das possibilidades. "Sem isso, o profissional não estaria sendo realista o suficiente para ser competente o suficiente", ressalta. Ninguém deseja errar, mas é um que está presente na vida de todos e não pode ser simplesmente deletado, apenas porque o indivíduo não saber conviver com ele. Confira a entrevista com Roberto Shinyashiki e boa leitura!



RH.com.br - As empresas estimulam o desenvolvimento dos talentos e sabemos que dentro deste processo encontra-se a possibilidade do profissional cometer erros, a fim de aprimorar a própria performance. O erro dos talentos tem sido aceito pelas empresas?
Roberto Shinyashiki - Todo passo na direção à perfeição é dado em cima da imperfeição. Querer negar isso é o mesmo que negar a natureza humana e querer admitir que as pessoas talentosas já nascem sabendo e por isso vão acertar sempre. As boas empresas levam em consideração a possibilidade de erros e os aceitam como parte do processo de evolução do seu pessoal. Mas tomam o cuidado de submeter seus funcionários a desafios próprios ao nível de desenvolvimento de cada um, com riscos previamente calculados.


RH - Os profissionais estão permitindo-se errar? 
Roberto Shinyashiki - É claro que as cobranças em um mundo tão dinâmico como o de hoje não dão muita margem para erros. E ninguém gosta de errar, principalmente quando de suas ações dependem os resultados da empresa. Mas o profissional consciente aceita suas imperfeições e considera o erro como uma das possibilidades. Sem isso, ele não estaria sendo realista o suficiente para ser competente o suficiente. O importante é que, para esses profissionais, aceitar suas imperfeições não significa permitir que elas os paralisem. Eles são cuidadosos, mas usam sua energia e sua ousadia para mudar o que precisa ser mudado e fazer a diferença dentro da empresa.


RH - Por que o erro ainda está fortemente ligado à possibilidade de retaliações, principalmente no âmbito corporativo?
Roberto Shinyashiki - Ninguém quer errar. Ninguém faz coisa alguma pensando que vai dar errado. Então, embora a falha não seja desejada, a possibilidade de erro deve sempre ser considerada. Porém, muitas empresas ainda não compreenderam que errar faz parte do processo e ainda insistem na punição dos responsáveis pelos erros. Mas empresas que usam retaliações como reações aos erros não estão preparadas para crescer e vencer. Além de não atingirem seus objetivos - porque onde há medo de retaliações as pessoas arriscam cada vez menos, limitando-se apenas às atividades mais seguras -, ainda ao longo do tempo essa empresa irá perder seus melhores e mais preparados funcionários, pois eles irão buscar outras empresas onde tenham a liberdade de arriscar ideias novas.


RH - Se consideramos que o medo faz parte do aprendizado, como convencer as pessoas de que isso é inerente à natureza humana?
Roberto Shinyashiki - Na verdade, a superação do medo é que faz parte do aprendizado. O medo, como parte da natureza humana, testa a nossa vontade e determinação em prosseguir crescendo, apreendendo, evoluindo. O medo é um obstáculo que pode se tornar um imobilizador, se você ceder a ele. Mas, como todos os obstáculos e os desafios, ele tem que ser superado. Aí sim ele traz aprendizado. Cada mudança na vida exige uma nova atitude, que tem de estar alimentada pela confiança, pois essa é a maneira de lidar com o medo e superá-lo. Trabalhar preocupado com o medo de errar é abrir as portas para o fracasso.


RH - É muito comum talentos permanecerem no anonimato, em virtude do medo de errar?
Roberto Shinyashiki - Nem todo mundo que tem talento torna-se um sucesso. E muitos desses que não têm sucesso provavelmente têm o medo de errar como um dos componentes do seu fracasso. Para ter sucesso, não basta ter talento. Além disso, entre outras coisas, o indivíduo tem que ter atitude, determinação, foco, objetivo definido e, é claro, tem que ter a coragem de arriscar testar suas ideias e de se colocar à frente dos problemas para resolvê-los, mesmo correndo o risco de falhar.


RH - O medo de cometer erros está mais presente nos profissionais que exercem cargos estratégicos ou isso ocorre em qualquer nível hierárquico?
Roberto Shinyashiki - O medo de cometer erros está em qualquer nível hierárquico. O que é diferente é o nível de comprometimento da empresa que um erro pode provocar em cada nível. Quanto maior o nível hierárquico, em geral, maiores e mais complexas as decisões e ações que deverão ser tomadas. E maiores as consequências de um possível erro. Porém, não se pode dizer simplesmente que o medo de cometer erros está mais presente ou é mais forte em pessoas que exercem cargos estratégicos. O que se pode afirmar sem sombra de dúvidas é que a pessoa que exerce um cargo estratégico numa empresa está muito melhor preparada para lidar com o medo de errar, porque senão o profissional simplesmente não estaria naquele cargo.


RH - Podemos afirmar que a Geração Y destaca-se por ser a que mais arrisca e, consequentemente, tem menos medo de cometer erros no trabalho? 
Roberto Shinyashiki - As pessoas da Geração Y cresceram vivendo em ação constante, fazendo várias coisas ao mesmo tempo e se acostumaram a conseguir o que querem, de preferência o mais rápido possível. Por isso têm uma tendência a não se deixar bloquear pelo medo, mas também costumam ir rápido demais à ação, sem avaliar adequadamente os riscos e sem pensar muito nas consequências. Comportamento esse que tende a ser reforçado pelo extremo individualismo e a competição acirrada a que se impõem. Dessa forma, enquanto levam vantagens por um lado, acabam comprometendo os resultados, pelo outro lado.


RH - Em sua opinião, em que momento o erro deixa de fazer parte do aprendizado, para ser considerado ausência de comprometimento ou até de competência?
Roberto Shinyashiki - O erro passa a ser considerado ausência de comprometimento ou de competência quando ele se repete. Um erro é normal e aceitável. Mas a sua repetição é, no mínimo, um caso de descuido, que precisa ser trabalhado cuidadosamente com o profissional.


RH - Qual a postura imediata da liderança, ao perceber que o espaço dado aos liderados tornou-se um campo fértil para a proliferação de erros que comprometem os resultados?
Roberto Shinyashiki - Nesse caso, o líder deve rever sua liderança, com a máxima urgência. Avaliar onde ele está falhando como líder, para que essa situação esteja acontecendo. Se a equipe transformou-se num multiplicador de erros, o líder está falhando no cumprimento do seu papel, e de maneira grave.


RH - O líder que não se permite e tampouco admite cometer erros, tem espaço no mercado? 
Roberto Shinyashiki - O líder que não se permite errar não sabe como lidar com os erros de sua equipe e, muitas vezes, também não aceita que seus liderados errem. Além dele mesmo perder suas chances pessoais de aprendizado com seus próprios erros, ele vai podar o crescimento da equipe, porque vai engessá-la executando somente atividades em que tenham mais segurança. É importante o líder assumir que também é humano e baixar um pouco a guarda e aceitar que ele também erra. Somente quem está aberto para perder pode vencer o jogo da vida.


rh.com.br
Comunicação LCA Treinamento & Consultoria

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vários sites estão investindo em cursos gratuitos online e com certificados.

  Com grande  crescimento antes e ainda mais com a chegada da pandemia , os cursos online gratuitos e EAD com certificados têm ganhado espaç...