CARTA ABERTA AO GOVERNADOR CAMILO SANTANA
EM DEFESA DO SINE/IDT, INSTITUIÇÃO EXECUTORA DAS AÇÕES DO SISTEMA PÚBLICO DE EMPREGO NO ESTADO DO CEARÁ
Senhor governador,
O governo brasileiro, seguindo a Convenção nº 88 da OIT, da qual o Brasil é signatário, criou, em 1975, o Programa Sistema Nacional de Emprego (SINE), implementado em todo o país em parceria com as Unidades Federadas, gerido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), seguindo diretrizes do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT).
A implantação do SINE no Ceará ocorreu em 1977 e transformou-se numa das mais bem-sucedidas experiências do País, desde meados dos anos 80, cujos resultados se destacam até hoje nos cenários nacional e internacional. A partir de 1998, suas atividades passaram a ser executadas pelo o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), organização social constituída a partir do corpo técnico remanescente do SINE-CE, que era vinculado à Companhia de Desenvolvimento do Ceará (CODECE). Por meio de contrato de gestão celebrado com o governo do Estado, tendo a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) como entidade contratante e supervisora, o escopo das ações do SINE vem sendo executado pelo o Instituto, há mais de 16 anos.
Ao longo desse período, ocorreu um salto de qualidade na execução e gestão das ações do SINE no Ceará, refletido em ganhos de produtividade, com ampliação e melhoria dos serviços ofertados, nas áreas de intermediação de mão de obra, seguro-desemprego, pesquisa e produção de informações sobre o mercado de trabalho, orientação e qualificação profissionais, execução dos Programas PROJOVEM (Urbano e do Campo), emissão de carteiras do trabalho, dentre outros.
Os serviços do SINE são prestados por meio de uma rede de atendimento, que se ampliou bastante depois da criação do IDT, com vistas a responder à demanda efetiva do mercado de trabalho em expansão, saltando de 22 para 40 Unidades (+82%). Dessa forma, consolidou-se como uma das maiores redes públicas de atendimento ao cidadão cearense. Seu quadro efetivo de pessoal, no entanto, expandiu-se em apenas 23% (de 271 para 330 empregados), nessas quase duas décadas, quando, a rigor, seria necessário dobrar seu quadro funcional.
Não obstante esta assimetria, o SINE/IDT tem conseguido manter-se como uma das instituições de referência do sistema público de emprego nacional e até em âmbito internacional. Em 2013, por exemplo, foi a única instituição sul-americana a apresentar sua experiência no Seminário Internacional “Innovaciones en Servicios de Empleo y Asociaciones Publico-Privadas, organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington D.C, para gestores dos serviços públicos de emprego de vários países e de todos os continentes. O mesmo BID, desde o ano passado, desenvolve Cooperação Técnica e Financeira com o estado, via STDS, no âmbito do Programa de Apoio às Reformas Sociais (PROARES), que prevê a construção de novas e modernas Unidades de Atendimento da Rede SINE/IDT, com o apoio do MTE.
A performance dessa rede de atendimento foi também destaque em matéria do jornal Valor Econômico, edição de 2/12/2014, por apresentar a melhor taxa de aproveitamento das vagas captadas pelos SINEs do país (58,1%), no período jan-set/2014. Atualmente, são mais de 1,2 milhão de atendimentos prestados por ano. De cada dez requerentes do seguro-desemprego no estado, sete são habilitados pelo SINE/IDT. O pagamento desse beneficio promoveu, somente em 2014, a circulação de R$ 1,1 bilhão na economia cearense.
Na contramão desse processo de afirmação e fortalecimento das políticas públicas do trabalho, legitimado inclusive no seu Plano de Governo (que prevê como AÇÃO PRIORITÁRIA para esta área, em 2015, "Reestruturar e modernizar a rede SINE de atendimento ao trabalhador"), o governo do Estado determinou um corte de 25% nos recursos destinados ao custeio do SINE/IDT. Trata-se de um grande equívoco, na medida em que o custeio de suas atividades é de responsabilidade do governo federal, cabendo ao estado, em contrapartida, assegurar o quadro de pessoal em quantidade e qualidade suficientes para operacionalizar as ações do Programa, nos termos do convênio plurianual firmado entre o Estado e a União.
Se esta drástica medida for posta em prática representará um grande retrocesso na prestação de serviços essenciais ofertados à comunidade, em especial, aos trabalhadores e empregadores cearenses, o que pode resultar na desestruturação das políticas públicas de trabalho no estado, rompendo uma trajetória exitosa de quase quatro décadas de atuação do SINE-CE.
As principais consequências decorrentes desse corte são:
1ª) Fechamento de 8 (oito) Unidades de Atendimento ao Trabalhador e de 7 (sete) Balcões de Emprego, com redução da cobertura territorial e da prestação de serviços à população, de uma rede que já não atendia, a contento, à demanda pelos seus serviços. Estima-se que tal medida resulte em uma queda de 27% de sua capacidade de atendimento, ou seja, 326 mil atendimentos/ano deixarão de ser prestados à sociedade.
2ª) Demissão de mais de 20% de seu quadro técnico-operacional, a maioria com vasta experiência profissional, representando uma perda irreparável do capital intelectual acumulado pelo o SINE/IDT, o que implicará num custo substancial em verbas rescisórias, o qual deverá ser arcado pelo o estado, haja vista sua responsabilidade contratual solidária e subsidiária para com o Instituto e dado que este não dispõe de lastro financeiro para arcar com tais despesas.
3ª) Inviabilização da Pesquisa de Desemprego, que há mais de 30 anos é executada por esta instituição, atualmente em parceria com o DIEESE, a Fundação Seade e o MTE, rompendo uma série histórica de levantamento mensal de estatísticas e estudos da situação do mercado de trabalho, privando o governo e a sociedade cearense de informações estratégicas para o diagnóstico e o planejamento das políticas públicas do estado, especialmente no contexto atual de desaceleração da atividade econômica.
4ª) Perda da Certificação de Qualidade ISO 9001:2008, mantida pelo o SINE/IDT desde 2003 (uma vez perdida, uma nova certificação custará mais de R$ 1.500.000,00).
5ª) Cancelamento de contratos de manutenção de toda a infraestrutura de Tecnologia da Informação e Comunicação usada pelo SINE/IDT, cujas ferramentas são indispensáveis ao funcionamento dos sistemas informatizados por ele operados, como é o caso do "Mais Emprego", gerenciado pelo MTE, que dá suporte às ações de intermediação de mão de obra, seguro-desemprego e encaminhamento para cursos do PRONATEC.
6ª) Com essas medidas haverá uma queda acentuada nos indicadores de desempenho do SINE/IDT, não atingindo as metas pactuadas no convênio assinado entre o Estado e a União, com a consequente redução dos recursos repassados pelo MTE para o Programa SINE, no Estado do Ceará.
Diante da gravidade da situação acima exposta e considerando o compromisso público de Sua Excelência com a prática do diálogo e da negociação solicitamos que a medida que determinou o corte de recursos para o funcionamento do SINE/IDT, em 2015, seja suspensa e iniciemos imediatamente uma discussão de alternativas para assegurar os recursos necessários à continuidade das ações do SINE no Ceará e outras políticas de fortalecimento do mercado de trabalho estadual, que experimentou forte expansão nos últimos anos, principalmente no tocante à geração de empregos com carteira assinada.
Fortaleza, 12 de fevereiro de 2015
Comissão de Instituidores e Empregados do IDT e
Organização por Local de Trabalho (OLT do IDT)
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