Existe um antigo ditado popular que diz "Cada um cria seu próprio céu e inferno". Se trouxermos essa afirmação para a prática, veremos que as pessoas vivenciam reflexos das suas escolhas. E isso pode ser constatado tanto no campo pessoal quanto corporativo. Vejamos, então, no caso específico daqueles que têm a responsabilidade de conduzi as equipes: os líderes.
O ano de 2008 foi marcado pelo registro do conceito de Liderança Positiva que, naquela oportunidade foi apresentado pelo estudioso Kim Cameron, ao lançar o livro "Positive Leadership", e que trouxe para as organizações a grande necessidade de se trabalhar e potencializar os pontos fortes dos profissionais. De acordo com Minoru Ueda, conferencista, pesquisador e consultor em comportamento humano, Cameron estabeleceu quatro elementos para a Liderança Positiva: criação de um clima positivo; criação de uma rede de relacionamentos positivos; criação de uma rede de comunicação positiva e criação de um significado positivo no trabalho.
"Se queremos estimular uma forma construtiva no ambiente corporativo, devemos incentivar as virtudes, os pontos fortes, os talentos, a empatia e a cooperação para criarmos um ambiente de confiança. E todos estes aspectos são trabalhados durante o processo da liderança positiva, juntamente com as competências emocionais", argumenta Ueda, ao ser indagado sobre o ambiente propício para se instituir a Liderança Positiva.
Em entrevista concedida ao RH.com.br, o consultor apresenta aspectos relevantes da Liderança Positiva e os reflexos que esta propicia às organizações que a adotam. Minoru Ueda é um dos palestrantes da 8ª edição doConviRH (Congresso Virtual de Recursos Humanos) - evento promovido pelo RH.com.br, no período de 15 a 30 de maio de 2014. Na oportunidade, ele ministrará a palestra em vídeo "Inteligência Emocional: um caminho para a Gestão de Conflitos". Boa leitura!
RH.com.br - Em que momento da história surgiu o conceito da Liderança Positiva e o que essa nova definição trouxe para o mundo corporativo?
Minoru Ueda - Historicamente falando o conceito de Liderança Positiva foi introduzida pelo estudioso Kim Cameron em 2008, através do seu livro Positive Leadership, e que trouxe para as organizações a grande necessidade de trabalharmos e potencializarmos os pontos fortes dos profissionais, baseado nos estudos promovidos por Martin Seligman, psicólogo norte-americano e ex-presidente da Associação Americana de Psicologia - e outros pesquisadores sobre a psicologia positiva. Nas palavras do próprio Seligman: "As pessoas querem mais que apenas corrigir fraquezas; querem vidas cheias de significado".
RH - Quais os elementos que alicerçam a Liderança Positiva?
Minoru Ueda - Kim Cameron estabelece quatro elementos para a Liderança Positiva que contribuem para que as organizações floresçam e obtenham resultados excepcionais. São eles: criação de um clima positivo; criação de uma rede de relacionamentos positivos; criação de uma rede de comunicação positiva e criação de um significado positivo no trabalho. No trabalho que desenvolvemos, nós interagimos estes conceitos com as bases das competências emocionais: autoconhecimento, autogerenciamento, automotivação, empatia e habilidades sociais.
RH - Qual o principal objetivo da Liderança Positiva e o que a difere das demais propostas que se encontram aplicadas pelas empresas?
Minoru Ueda - Creio que os conceitos da Liderança Positiva e principalmente da psicologia positiva agregam valores para todas as propostas e as metodologias que estão sendo trabalhadas atualmente dentro das organizações. Martin Seligman quando lançou o conceito da psicologia positiva, até então como presidente da Associação Americana de Psicologia, propôs três pilares que sustentaria a psicologia positiva: primeiro - o estudo da emoção positiva; segundo - o estudo do caráter positivo-forças e virtudes e o terceiro pilar - o estudo das instituições positivas. Portanto, a partir deste terceiro pilar - instituições positivas, contribuir para as organizações trazendo elementos da Liderança Positiva como: pontos fortes, talentos, coragem, esperança, otimismo, resiliência, cooperação, criatividade, emoções positivas, empatia e, principalmente, o significado e o sentido positivo do trabalho, que sem dúvida, representa uma ferramenta de excelência no processo do desenvolvimento organizacional.
RH - Existe um ambiente corporativo propício, para se aplicar a Liderança Positiva?
Minoru Ueda - Excelente pergunta. Quando recebo esta indagação por parte dos gestores, eu convido para a seguinte reflexão: se queremos estimular uma forma construtiva, devemos incentivar as virtudes, os pontos fortes, os talentos, a empatia e a cooperação para criarmos um ambiente de confiança. E todos estes aspectos são trabalhados durante o processo da liderança positiva, juntamente com as competências emocionais. É claro, que os gestores e principais administradores devem estar alinhados com estas práticas, pois ao falarmos do positivo, falamos de recursos e de potencialidades, bem como de tudo aquilo que faz com que a vida desenvolva-se e principalmente valha a pena de ser vivida, afinal de contas passamos mais tempo no trabalho do que com a nossa própria família. E quando propomos a empatia dentro do ambiente de trabalho, todo o processo de comunicação e as relações interpessoais são impactadas positivamente, e principalmente, existe a possibilidade destas atitudes positivas na vida pessoal, impactando no bem-estar e na qualidade de vida.
RH - Dos elementos citados anteriormente, qual ou quais são os mais difíceis de serem colocados em prática pelas organizações?
Minoru Ueda - Como os quatro pilares: clima, relacionamento, comunicação e significado positivo estão interligados, considero através da nossa prática no dia a dia nas organizações, que a maior dificuldade é quebrarmos o ciclo virtuoso das reclamações e do fenômeno que costumo chamar de vitimização, ou seja, pessoas que dentro das empresas acreditam que são vitimas das circunstancias e não assumem o seu papel, ou melhor, não desenvolvem a primeira competência emocional, o autoconhecimento, condição básica para o autodesenvolvimento.
RH - Quais as principais competências comportamentais que a Liderança Positiva apresenta no dia a dia?
Minoru Ueda - Vamos iniciar com a comunicação positiva e empática, afinal de contas o líder dentro do processo de influenciar os membros da sua equipe, desenvolve a sua percepção para detectar as necessidades emocionais dos seus colaborares, sendo capaz de transmitir feedbacks positivos e oferecendo oportunidades para através dos feedbacks de desenvolvimento, criar um clima positivo dentro do ambiente de trabalho. Outra competência essencial desenvolvida dentro da Liderança Positiva é o desenvolvimento do processo de empatia junto aos seus colaboradores, não apenas percebendo o sentimento e as necessidades dos membros da sua equipe como também se interessando continuamente pelo significado e pelo sentido do trabalho que este possui dentro da organização. E esta competência empática, esta intimamente ligada à competência de administrar conflitos dentro da organização, impactados que somos por conta das frequentes mudanças e pressões do mercado. Dentro ainda destes cenários de mudanças frenéticas, a resiliência também é uma das competências desenvolvidas na Liderança Positiva, sendo a capacidade de superar o estresse e as adversidades. As emoções positivas podem funcionar como fator de proteção nas situações de desafio, bem como cultivar significados positivos o que representa uma estratégia eficaz para a construção de habilidades e atitudes saudáveis frente às circunstancias desafiadoras do dia a dia no trabalho.
RH - No contexto da Liderança Positiva, encontramos a teoria do Flow. Qual a relação entre esses dois componentes e o que ambos agregam à Gestão de Pessoas?
Minoru Ueda - Considero que a teoria do Flow a essência da Liderança Positiva. É uma das bases da psicologia positiva, desenvolvida pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, uma ferramenta importante para que o líder positivo através das suas ações auxilie na construção do significado positivo do trabalho não apenas para si, mas para a sua equipe e impactando na organização. Segundo os estudos desenvolvidos por Csikszentmihalyi, as experiências mais elevadas e mais realizadoras na vida das pessoas, acontecem quando se encontram em estado de flow, ou seja, em fluxo. Algumas características deste estado, e creio que muitos de nós já vivenciamos: equilíbrio entre oportunidade e a nossa capacidade, ou seja, equilíbrio entre desafios e as nossas habilidades. Outra característica é a concentração profunda e a noção de tempo é alterada, ou seja, quando realizamos algo e queremos mais tempo para desenvolver este trabalho, tamanha é o nosso envolvimento com este trabalho. Para que ocorra o flow no ambiente de trabalho pelo menos três pré-requisitos devem existir: objetivos claros, processos sistemáticos de feedbacks e equilibrar desafios com as habilidades. Na realidade muitas organizações já desenvolvem o flow dentro do ambiente de trabalho, visando um maior comprometimento e trabalhos inovadores, criando um clima positivo onde os colaboradores utilizam-se dos seus pontos fortes, possibilitando um ambiente de desenvolvimento de talentos e desta maneira, valorizando estes profissionais através de uma elaborada comunicação empática na diáde entre líder e liderado.
RH - Os reflexos que a Liderança Positiva traz às equipes são de curto, médio ou longo prazo?
Minoru Ueda - Em curto prazo os ganhos da Liderança Positiva é um processo proativo para a Gestão de Pessoas como, por exemplo, a gestão de conflitos, pois a partir do momento que se trabalha o processo de comunicação, baseado principalmente na empatia, traz a oportunidade da criação de um clima mais positivo. Aproveitando o clima positivo, em médio prazo a equipe com a dinâmica do líder positivo e das ferramentas do flow já mencionadas. Dentro desse contexto, a equipe desenvolve entregas para a organização como criatividade e inovação, pois os relacionamentos positivos geram a confiança, principio básico para que ocorram as sugestões e as participações para a melhoria do processo. Além do próprio clima positivo, criando um processo de resiliência frente aos desafios como, por exemplo, mudanças de cenários e competitividade do mercado. Em longo prazo, a conexão entre felicidade e trabalho, pois afinal de contas o nosso papel profissional possui um impacto muito forte na construção da nossa identidade e, portanto, a Liderança Positiva ao trabalhar com emoções positivas, relacionamentos positivos, significados e sentidos positivos do trabalho, possibilitam resultados positivos que contribuem para o nosso bem estar profissional e pessoal.
RH - A Liderança Positiva pode ser considera uma tendência organizacional para o mercado brasileiro?
Minoru Ueda - Creio que sim, pois a Liderança Positiva está alinhada com a tendência de criar um bom ambiente de trabalho, visando o bem-estar dos profissionais que possibilite resultados positivos para a organização. O Instituto Gallup realizou uma pesquisa englobando mais de um milhão e 700 mil funcionários em 101 empresas de 63 países, sobre a "oportunidade de fazer o que faço de melhor". Cerca de 20% das pessoas acham que usam seus pontos fortes todos os dias, embora seja alarmante saber que a maioria das companhias opera com 20% de sua capacidade, esta descoberta representa uma oportunidade para as organizações através do processo da Liderança Positiva potencializar os 80% restantes destas competências que não são utilizadas para criar e agregar valor.
RH - Em sua opinião, as empresas estão preparadas para instituírem a Liderança Positiva ou ainda falta algo?
Minoru Ueda - Acredito que muitas empresas pretendem criar um ciclo virtuoso de relacionamentos interpessoais e de bons resultados organizacionais. Desta maneira, a Liderança Positiva, ao trabalhar os aspectos do autoconhecimento, da automotivação e das habilidades sociais presentes nas competências emocionais, possui a possibilidade de agregar valor nos diferentes estágios que a organização encontra-se. Hoje existe um grande movimento dentro do mundo organizacional de criar um clima organizacional positivo, visando o bem-estar dos colaboradores, permitindo um ambiente de comprometimento e entrega de resultados, desta maneira ao dinamizar o processo dos pontos fortes e da empatia, a Liderança Positiva traz ferramentas que contribuem e agregam valor para estas estratégias organizacionais e para a sustentabilidade das relações.
Por:Patrícia Bispo
Formada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap.
Comunicação LCA Treinamentos & Consultoria
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