As antigas concepções de que "em time que está ganhando não se mexe" ou de que "quanto mais for possível unir profissionais que tenham um alinhamento comportamental resultará em uma equipe de sucesso" já é algo completamente obsoleto. Isso porque o mundo mudou nas mais variadas esferas e isso também influenciou o surgimento de um novo perfil dos talentos para compor as organizações de sucesso. Hoje, por exemplo, se vislumbra que quanto mais a diversidade se fizer presente no dia a dia das empresas, maior será a oportunidade de surgirem propostas inovadoras e times que capazes de superar desafios que determinem o tempo de a existência de uma companhia.
Mas, como formar uma equipe diversa? O que pode contribuir ou prejudicar o desempenho de um time regido pelo diverso. Para responder essas e outras questões, o RH.com.br entrevistou Gustavo Falcão, sócio-diretor da Mosaico Treinamento & Desenvolvimento. Segundo ele, para se formar uma equipe diversa, geralmente, é preciso fazer leitura adequada do ambiente, mapeando as competências e os talentos de cada membro. "Assim, podemos direcionar as tarefas e as atividades para as pessoas de acordo com a maturidade e a aptidão, conquistando dessa forma melhores resultados", complementa.
Vale ressaltar que Gustavo Falcão participará do 7º ConviRH (Congresso Virtual de Recursos Humanos) - evento promovido pelo RH.com.br, no período de 16 a 31 de maio de 2013. Na oportunidade, ele irá proferir juntamente com Alberto Ruggiero - também sócio-diretor da Mosaico Treinamento & Desenvolvimento - a palestra em vídeo "Peculiaridades Comportamentais dos Líderes da Geração Y". Boa leitura!
RH.com.br - Quais as principais características de uma equipe diversa?
Gustavo Falcão - Por essência a diversidade é um conceito amplo, com diferentes aplicações. Dentro do ambiente corporativo, numa equipe, por exemplo, podemos ter a diversidade de pensamento, de pontos de vista, opiniões, de ideias, hábitos, de crenças e valores, de diversidade cultural, de comportamental, de gênero, de gerações, e assim por diante. A diversidade diz respeito à convivência, está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade, que nos diferencia de algo ou do outro. A ideia de diversidade pode ser encontrada na dissonância ou consonância das diferenças e na tolerância mútua.
RH - Formar um time com essas peculiaridades requer grande prazo ou pode ocorrer em curto espaço de tempo?
Gustavo Falcão - Ambos. Com mais frequência é preciso algum tempo para fazer a leitura adequada do ambiente, mapeando as competências e os talentos de cada membro, para direcionar as tarefas e as atividades para as pessoas de acordo com a maturidade e a aptidão, conquistando dessa forma melhores resultados. Porém, também é possível por uma conjunção de fatores incontroláveis que geram uma sinergia quase que instantânea entre membros de uma mesma equipe, o desafio aqui não é iniciar uma equipe e sim manter essa sinergia inicial a médio e longo prazo.
RH - Quais as vantagens que a diversidade traz à formação de uma equipe?
Gustavo Falcão - Primeiro, será que conseguimos parar e pensar no potencial da diversidade que há dentro da empresa? Se existe diversidade, pode ser que tenha dentro da sua empresa um grande potencial de inovação, de criatividade e de performance. A maior vantagem é essa, além de conseguir extrair da melhor forma possível esse potencial de cada membro da equipe. Tudo o que a princípio parece ser dissonante pode transformar-se em vantagem, as diferenças no comportamento, a forma analítica e objetiva que alguém percebe uma situação, complementa a maneira intuitiva e relacional que outra pessoa percebe a mesma situação. Uma pessoa prefere organizar, detalhar, planejar o dia a dia, seguir roteiros e processos, já a outra gosta de questionar, trazer ideias, sugerir e provocar mudanças. É um mosaico organizacional. Resultados maiores e melhores ocorrem através da harmonia desses potenciais.
RH - Quais os principais fatores que podem comprometer o desempenho de um time regido pela diversidade?
Gustavo Falcão - As generalizações que as pessoas fazem sobre as características ou os comportamentos de outras pessoas, pois os rótulos comprometem o desempenho. O excesso de vaidade é outro fator importante. É incrível como um número grande de profissionais ainda se deixa escravizar e cegar por essa armadilha da percepção humana. Estar focado apenas naquilo que "eu" quero e deixar de lado o que é melhor para "nós". A falta de objetivos compartilhados e de engajamento podem ressaltar as diferenças e estimular a competitividade interna de forma improdutiva e, certamente, afetar o desempenho.
RH - Geralmente, quais os problemas que as empresas encontram ao formarem um time diverso?
Gustavo Falcão - Os desafios com a diversidade aumentaram nos últimos anos, o avanço da tecnologia, os canais de comunicação, as mídias sociais, as alterações nas estruturas sociais, familiares, econômicas, um número maior de equipes virtuais e multidisciplinares trabalhando juntas, questionamento da hierarquia e mudanças constantes costuma criam uma tensão em tomo dessa realidade. A condução e o comprometimento por parte das lideranças, estratégias de RH e cultura organizacional podem agir como apoio e fortalecer a construção dessas equipes em um ambiente cada vez mais complexo e dinâmico.
RH - Por que as organizações ainda se deparam com tanta dificuldade para lidar com a diversidade?
Gustavo Falcão - Procurar respostas é importante, mas saber fazer perguntas melhores é mais importante ainda, ter o foco no que realmente faz sentido. Como cada integrante pode contribuir para o trabalho em equipe? Qual é o ponto de atenção de cada membro, que pode vir a bloquear ou impulsionar o trabalho em equipe? Que tipo de atividade cada um dos membros tem mais talento para realizar? É possível redistribuir alguma dessas atividades pensando na otimização de talentos? O resultado é fundamental, os processos são importantes, mas as pessoas é que dão vida a eles. O investimento de tempo no desenvolvimento e numa maior compreensão das diferenças entre as pessoas reflete diretamente na performance das mesmas.
RH - Quais as principais competências que um líder deve ter para conduzir uma equipe formada por talentos diversos?
Gustavo Falcão - Mais de 70% dos desafios organizacionais estão relacionados ao tema comunicação, por isso o desafio de liderar neste contexto é constante e exigirá, cada vez mais, a capacidade de compartilhar a estratégia, através da visão sistêmica e da leitura de ambiente, capacidade de dar e receber feedback, construção de relacionamentos interpessoais verdadeiros e mais eficazes, além da flexibilidade, cooperação, poder de concatenar as pessoas e o ouvir para compreender e não para apenas responder, criando laços de confiança. Sem dúvida o treinamento on the job, ou seja, no local de trabalho, com acompanhamento do líder direto é sem dúvida o mais impactante.
RH - No tocante à área de Recursos Humanos, como essa pode contribuir para que a diversidade se faça presente nas equipes?
Gustavo Falcão - Quando a diversidade é bem gerida, a organização, o líder, o RH e o indivíduo juntam esforços para se adaptarem às diferenças e construirem uma relação produtiva. O RH atuando em consonância com a cultura organizacional com uma política de recrutamento e seleção cada vez mais alinhada com a missão, a visão e os valores, com a estratégia e os objetivos do negócio. Um processo de integração adequado, um plano de carreira moderno. Fornecer ferramentas para uma comunicação objetiva e transparente que favoreça a confiança entre as relações, concentrando-se numa abordagem que garanta à empresa o uso de todos os seus recursos disponíveis para produzir os melhores resultados da forma mais natural possível.
RH - Em sua opinião, os impactos que a diversidade traz aos resultados de uma empresa?
Gustavo Falcão - Gerir a diversidade significa que a organização age de forma a capacitar e a transferir poder para a sua força de trabalho. O tripé: percepção de si - autoconhecimento, percepção do outro - líder, liderado, clientes, fornecedores, pares, comunidade, e percepção do negócio - estratégias e resultados, ampliam a compreensão da diversidade que começa com a autopercepção. Ou seja, quanto mais eu me conheço melhor, eu percebo o outro e quanto melhor eu percebo o outro melhor é a sintonia no trabalho e naturalmente o impacto para o resultado do negócio, as pesquisas de clima, os feedbacks de avaliações de desempenho, a satisfação de clientes internos e externos tende a melhorar.
RH - O senhor aconselha a diversidade para qualquer empresa, independentemente do porte ou segmento?
Gustavo Falcão - Na verdade a diversidade, hoje, é uma realidade, não é uma questão de aconselhar e sim de aprender a lidar com ela, Claro que em alguns casos a diversidade tem uma intensidade menor e em outros casos sua intensidade é maior. Ser capaz de reconhecer, compreender, perceber, aceitar, valorizar e utilizar criativamente a riqueza encontrada na diversidade de seus colaboradores é fundamental e isso independe do porte ou segmento da empresa.
RH - Que recado o senhor deixaria para as organizações que começam a investir no diverso?
Gustavo Falcão - Invistam na preparação de seus líderes, entendam as nuances nas mudanças de Pipeline, invistam no seu bem mais precioso que são as pessoas, desenvolvam propósitos e não apenas metas, façam questionamentos como: "Com este cenário, como podemos tirar proveito dessas diferenças para garantir um ambiente de crescimento, que seja compatível com nossos negócios?"; "A disseminação do conhecimento está cada vez mais rápida, como podemos tornar o ambiente de trabalho mais dinâmico?"; "Como tornar as pessoas protagonistas de si próprias e potencializar a relação aprender x ensinar?"; "Estamos preparados para agregar novos modelos de aprendizagem?". Busquem a integridade, onde a coerência entre o que se pensa, se fala e se faz na organização seja uma realidade cada vez mais constante. Este processo de transformação é complexo e exigirá uma construção de novos referenciais e aprendizagens a partir da percepção das circunstâncias que permeiam as relações humanas.
Por: Patrícia Bispo
Formada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap.rh.com.br
Comunicação LCA Treinamentos & Consultoria
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