sábado, 3 de março de 2012

Carreira de RH: um constante desafio!

Mariane Guerra

Uma trajetória profissional que começou a ganhar formato ainda quando era estudante do segundo ano do curso de pedagogia. Esse foi o início da história de Mariane Guerra, que assumiu, em dezembro de 2011, a responsabilidade de conduzir a diretoria de Recursos Humanos da ADP Brasil - empresa com sede em New Jersey, Estados Unidos, com atuação no segmento de serviços e soluções de RH em todo o mundo.

"A minha principal missão é atrair, desenvolver e reter talentos que agreguem a proposta de valor da empresa e a ajude a continuar crescendo de forma estruturada e sustentável", confessa Mariane que conta com mais de 20 anos de experiência na área e já trabalhou em grandes organizações como Marsh MacLennan, Banco Santander, GE Capital, AOL, Nortel Networks, Mobil Oil e PepsiCo. Para saber detalhes soabre esse desafio vivenciado por uma profissional da área, RH.com.br conversou com Mariane Guerra.

Para começar, ela se depara com uma rotina de uma multinacional com 51 mil funcionários e que atende cerca de 570 mil clientes, em mais de 125 países. Durante a entrevista ao RH.com.br, Mariane Guerra destacou não apenas os obstáculos que enfrentou ao longo dos anos, mas também as razões que a motivaram a ser uma RH.

"O RH que não entende a dinâmica de ganhar e perder dinheiro da empresa onde trabalha, não consegue agregar valor", adverte, ao destacar um dos pontos fundamentais para quem se dedica à área e pretende destacar-se no mercado. Confira a entrevista na íntegra e aproveite a leitura!

RH.com.br -

Por: Patrícia BispoFormada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap.

rh.com
Comunicação LCA Treinamentos & Consultoria
Há quanto tempo a senhora atua como profissional de Recursos Humanos e como começou sua paixão pela área?
Mariane Guerra - Atuo em RH desde 1987, quando ainda no segundo ano da faculdade de pedagogia comecei fazer estágio em Treinamento & Desenvolvimento com o objetivo de conhecer a área. Naquela época, ainda não existiam cursos com especialização em RH, mas durante o primeiro ano de faculdade tomei contato com a andragogia - educação de adultos - que é a teoria base para Treinamento e Desenvolvimento e resolvi conhecer um pouco. Acabei ficando para sempre. Tive sorte de já no segundo estágio conhecer a área de Planjemento de Carreira, na SHARP. Foi aí que me decidi pela carreira. Minha supervisora de estágio na época, a Malú Pinto, foi muito importante para que eu tomasse a decisão de seguir esta carreira. Eu olhava para ela e pensava: quero ser assim ! No início de carreira, acredito que ter um modelo para inspirar a pessoa é fundamental.

RH - O seu ingresso na área foi parte do seu planejamento de carreira ou tudo ocorreu naturalmente?
Mariane Guerra - Um pouco dos dois. No início, principalmente, os estágios foram acontecendo naturalmente. Sou muito curiosa, fui me interessando pelo assunto e as coisas foram acontecendo. Quando já estava estagiando por quase dois anos em RH, recebi uma proposta para ser efetivada na área comercial em uma das empresas do Grupo White Martins. Eu ainda estudava e aceitei o desafio. Trabalhei na área de comércio exterior por quase quatro anos. Neste momento, precisei de muita disciplina e planejamento para fazer o movimento de volta para o RH. Foi muito difícil tomar a decisão e encontrar alguém que me abrisse a porta. Hoje, valoriza-se muito uma experiência na área de negócios para um profissional de RH. Mas em 1991, isso parecia um sacrilégio que alguém tivesse saído da área para trabalhar em administração de vendas e quizesse voltar. Fui trabalhar na famacêutica Wyett-Whitehall. O Márcio Fernandes Machado, na época gerente de Treinamento, já tinha uma área especializada para Treinamento de Vendas e acreditou que minha experiência dos dois lados do balcão seria válida. Foi um movimento de carreira difícil porque fui ganhar menos, trabalhar mais longe, começar do zero. Mas foi algo pensado e planejado. Sabia que teria que dar um passo atrás para poder avançar e foi o que aconteceu.

RH - Como foi a sua primeira experiência como profissional de RH e o que isso representou para a sua trajetória profissional?
Mariane Guerra - Minha primeira experiência profissional, já como analista de Treinamento foi na Wyett-Whitehall. Foi super importante porque aprendi, de verdade, o que era Treinamento de Vendas. Estruturado, com metodologia, disciplina comercial. Conceitos que na época a indústria farmacêutica já usava e que na minha opinião até hoje ainda são muito importantes para qualquer negócio. Foi esta experiência que me propiciou voltar para a White Martins para executar o Programa de Treinamento de Marketing Industrial posteriormente, o que representou um outro salto na minha carreira.

RH - Quais foram as dificuldades que a senhora considerou mais expressivas e que lhe serviram de aprendizado no início de carreira?
Mariane Guerra - Acredito que minha primeira dificuldade expressiva, foi quando assumi a gestão de uma equipe. Fiz um movimento de carreira bem arriscado. Troquei de empresa, assumi uma liderança pela primeira vez e ainda aumentei de escopo técnico. Assumi pela primeira vez a área de Recrutamento e Seleção, justamente em uma empresa de mão de obra intensa - a divisão Pizza Hut da PepsiCo. Minha maior dificuldade foi entender que as pessoas têm ritmos diferentes e aprender a respeitar isso foi um desafio. Eu tinha pressa. Trabalhava como uma louca e a equipe tinha que correr atrás. Não sei como me aguentaram. Mas, no fim acho que fiz algumas coisas certas. Hoje, pelo menos duas pessoas dessa primeira equipe que gerenciei são executivos bem-sucedidos.

RH - Como esses obstáculos foram superados no dia a dia?
Mariane Guerra - Aos poucos, principalmente sendo humilde para ouvir o feedback do próprio time, fui aprendendo a calibrar esta energia realizadora. Depois, com ajuda de alguns instrumentos de autoconhecimento como o MBTI, por exemplo, fui tomando consciência de que a diversidade é muito produtiva. Propositadamente, fui trazendo pessoas com ritmos e visões diferentes para compor o time, aprendendo a lidar com os conflitos que isso causa e, ao mesmo tempo, descobrindo que o resultado é muito melhor.

RH - Quais os recursos que a senhora utilizou para se desenvolver como profissional?
Mariane Guerra - Acho que o recurso mais significativo foi minha atitude natural de sempre querer coisas novas, de estar aberta a experimentar. Assumi inúmeros projetos paralelos às minhas funções regulares, sempre participei de times multifuncionais, responsabilidade social, qualidade, tudo que me oferecesse eu aceitava. Essa exposição ensina muito, você trabalha mais que os outros, mas também aprende mais e cresce mais rápido. Claro que investi em conhecimento técnico também. Fiz pós-graduação em Administração de RH, vários cursos técnicos e certificações profissionais que me ajudaram muito. Mas talvez o que mais tenha me feito crescer foi querer aprender o negócio. O RH que não entende a dinâmica de ganhar e perder dinheiro da empresa onde trabalha, não consegue agregar valor. A participação em associações profissionais também me ajudou e ajuda muito ainda hoje, como também ler sobre o assunto e assinar todos os newsletters de grandes consultorias. Acredito que precisamos manter a mente arejada, conhecer o que está sendo feito lá fora para avaliar nossas questões com isenção.

RH - Em sua opinião, que significa ser um profissional de RH?
Mariane Guerra - Acredito que a melhor definição que já ouvi é a de que RH deve ser uma função que apoia a performance e o crescimento sustentável na organização, sendo capaz de atrair, desenvolver e reter talentos. Afinal, as empresas são basicamente pessoas, reunidas debaixo de uma instituição jurídica. Algumas têm patrimônio, outras não. Mas uma coisa é certa: todas têm pessoas. E pessoas, se preparadas e engajadas, realizam coisas grandiosas.

RH - Como surgiu o convite para assumir a diretoria de RH da ADP Brasil?
Mariane Guerra - Eu estava trabalhando como consultora há três anos e fui contatada por uma consultoria especializada em contratação de executivos. Confesso que sentia falta da vida corporativa, mas ainda não estava convencida a voltar para o dia a dia de executiva. No entanto, quando tive a primeira conversa com o Cesar Marinho, presidente da ADP, fiquei entusiasmada com o desafio. Depois da conversa com a vice-presidente de RH para a área internacional da ADP, eu já estava comprada com a proposta. Felizmente, eles também julgaram que eu poderia ajudá-los e aqui estou eu.

RH - Qual o seu grande desafio, nesse momento da sua trajetória profissional?
Mariane Guerra - Na ADP, meu desafio não é diferente da maioria dos profissionais de RH no Brasil hoje: sustentar o crescimento do negócio, ajudando na formação de líderes e na qualificação profissional. Com o mercado brasileiro aquecido, este deve ser nosso grande desafio. Ter pessoas preparadas para acompanhar o crescimento, sem ter que competir 100% do tempo por talentos. Formar pessoas é crucial neste momento. Pessoalmente, acho que meu desafio é garantir equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Quando a gente gosta do que faz, é muito fácil exagerar e acabamos sacrificando outros papeis que são tão ou até mais importantes em nossa vida. Não se pode descuidar.

RH - Que marca a senhora pretende deixar na sua gestão?
Mariane Guerra - Acredito em um RH acessível e parceiro. Espero poder deixar esta marca. Uma área que apoia e ajuda a empresa a ser bem-sucedida.

RH - Quais os seus planos para a área de RH da ADP Brasil?
Mariane Guerra - Meu objetivo pessoal é colocar a ADP entre as melhores empresas para se trabalhar. Para isso acontecer, precisaremos mudar nossa maneira de interagir com a empresa. Esta talvez seja a primeira grande mudança. Estamos saindo de um modelo de RH tradicional - com especialistas - para uma área estruturada em função do cliente interno, atuando por meio de business partners - consultores internos de RH.

RH - Que lições a senhora tirou da área de RH que serviram para a sua vida pessoal?
Mariane Guerra - Muitas. Hoje, quando interajo com meus filhos, por exemplo, sempre penso se as decisões que estou tomando farão deles profissionais bem-sucedidos no futuro. Se a maneira como estou ajudando os dois a crescer garantirá que eles desenvolvam as competências necessárias ao mundo profissional daqui a 10 ou 15 anos. Além disso, às vezes, uso algumas técnicas de coaching com eles. Apesar ainda de serem pequenos, são de uma geração muito desafiadora e preparada. Já nascem sabendo negociar.

RH - A senhora gostaria de deixar algum recado para os profissionais de RH ou mesmo aqueles que pretendem ingressar na área?
Mariane Guerra - Após quase 20 anos como empregada de empresa privada, dos quais durante quase 10 anos fui executiva, decidi experimentar trabalhar em consultoria. A rotina é muito diferente, você tem picos e vales de trabalho. Estes vales te proporcionam tempo para estudar, ler, por exemplo. Fiquei surpresa com a quantidade de boa informação , disponível gratuitamente no mercado que eu simplesmente não acessava por estar sempre muito ocupada com a rotina executiva. É um desperdício de recurso. Descobri que precisamos ter disciplina e encarar isso como uma agenda regular. Para alguém que trabalha em uma área cuja função primordial é desenvolver pessoas, é vital estar atualizado. Isso tem que fazer parte da descrição de cargo. Acho que este é o meu recado para qualquer profissional de Recursos Humanos ou não. Manter a perspectiva externa é mandatório no mundo em que vivemos. Precisamos aprender pelo menos uma coisa nova, todos os dias. Para mim isso passou a ser uma meta.

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