Dalmir Sant'Anna |
Nesse exato momento, enquanto você inicia a leitura desse texto, inúmeros trabalhadores encontram-se em seus postos de trabalhos com características visíveis de desmotivação. Isso reflete tanto no desempenho profissional quanto na vida pessoal, pois muitos se sentem constrangidos de passarem boa parte do dia em um ambiente que se tornou sinônimo de "tortura". De acordo com Dalmir Santa'Anna, consultor organizacional e autor do livro "Oportunidades - Estratégia competitiva para diferenciais na vida pessoal e no ambiente corporativo", essa situação de insatisfação ocorre em diversos setores e áreas profissionais. "A insatisfação é algo que está intrinsecamente no indivíduo, pois ele tem livre arbítrio entre fazer o bem ou fazer o mal, entre ser triste ou feliz", defende.
Em entrevista concedida ao RH.com.br, Dalmir Sant'Anna cita que ao aproveitar as oportunidades diárias oferecidas pelo trabalho, cada indivíduo gera certo grau de amor, que se nutri gradativamente pela profissão por meio da identificação com o que se gosta de fazer. Ele acredita que o grande desafio atual da área de Recursos Humanos está direcionado em encontrar satisfação e estimular os colaboradores a encontrar sentido nas atividades que desempenham diariamente. "Não há um plano único de motivação para todas as empresas", sintetiza. Durante a entrevista, Sant'Anna abre espaço para outras questões relevantes em relação a um ambiente corporativo saudável e que sirva de fonte motivacional para os talentos. Boa leitura!
RH.com.br - Geralmente, o que faz as pessoas considerarem o trabalho uma tortura?
Dalmir Sant'Anna - Quando um profissional entra na atmosfera de comodismo ele gera um desconforto, uma insatisfação e o que a psicologia nos ensina: algo relacionado à tristeza. Então, quando não há satisfação no que você realiza, o trabalho passa a ser visto como uma tortura. Nessa perspectiva ainda há indivíduos que organizam um happy hour no final do expediente na sexta feira, mas qual é a festa que ocorre na segunda feira pela manhã? Observe que muitas vezes um profissional não encontra satisfação no que realiza porque ele não gosta do que faz e ocupa um cargo que, muitas vezes, não lhe traz alegria e otimismo.
RH - Esses fatores que o senhor mencionou evidenciam-se nos mais diversificados segmentos de atuação ou existe um grupo que mais sofre ao se deparar com o dia a dia de trabalho?
Dalmir Sant'Anna - Acredito que essa situação de insatisfação ocorre em diversos setores e áreas profissionais, seja no primeiro, segundo ou terceiro setor. A insatisfação é algo que está intrinsecamente no indivíduo, pois ele tem livre arbítrio entre fazer o bem ou fazer o mal, entre ser triste ou feliz. O trabalho encarado como uma satisfação requer o desejo constante em apreender, por meio de treinamentos, palestras e cursos. Isso faz com que o clima de trabalho seja mais valorizado. Quando o trabalho passa a ser visto como uma satisfação há um ciclo de felicidade profissional, aumento da capacidade de uma pessoa em refletir ideias, analisar tendências e visualizar outra perspectiva do mercado de atuação.
RH - Quais os primeiros sinais de que o trabalho virou ou está prestes a se tornar uma tortura para o profissional?
Dalmir Sant'Anna - O homem reduzido a gestos mecânicos torna-se, de maneira ilustrativa, como um homem esquizofrênico e esse exemplo foi retratado de maneira clássica no filme "Tempos Modernos", de Charles Chaplin. O filme focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, quando a depressão atingiu a sociedade norte-americana. Ao conseguir emprego em uma indústria, Carlitos transforma-se em um operário engolido pelo poder do capital e perseguido por suas ideias subversivas. Creio que ao aproveitar as oportunidades diárias oferecidas pelo trabalho, cada pessoa gera certo grau de amor, que se nutri gradativamente pela profissão por meio da identificação com o que se gosta de fazer.
RH - Quando a pessoa escolhe uma profissão e, com o tempo, passa a considerar o seu trabalho uma tortura, chegou o momento de mudar de empresa ou enveredar por uma nova carreira?
Dalmir Sant'Anna - Muitas vezes é preciso mudar de empresa, pois a cultura organizacional ou o relacionamento entre as pessoas não gera uma identificação. A mudança pode fazer com que o trabalho deixe de ser uma tortura, porque estará convivendo com novas pessoas, com outra cultura, com outra missão, outra visão. Alguns acadêmicos sonham em trabalhar numa empresa multinacional, mas quando eles têm a oportunidade de conhecer a missão, visão e a cultura daquela empresa, há uma frustração e aí, o trabalho passa a ser uma tortura. Em outra visão, conheço várias pessoas e apresento alguns exemplos no meu livro chamado "Oportunidades" que, conquistaram a formação acadêmica em um curso, mas depois não encontraram satisfação no que fizeram. Foram em busca da mudança, de uma troca da carreira e ai vem essa oportunidade de você perceber que a vida o faz feliz. O que o faz feliz no ambiente de trabalho? E principalmente, o que te dá prazer em despertar na segunda feira de manha e ir ao seu local de trabalho?
RH - No dia a dia, o que cada indivíduo pode fazer para que seu trabalho não seja visto como uma porta para a tortura?
Dalmir Sant'Anna - Recentemente fui convidado pela Seleção Brasileira de Futsal para apresentar palestra aos jogadores. Preparando o conteúdo da palestra junto com a comissão técnica construí a seguinte frase: "Jogue bola com pessoas ruins e você será visto como fraco. Jogue bola com pessoas vitoriosas e você erguerá o troféu com elas". Veja que interessante, quando você está ao lado de pessoas negativas, tristes e aborrecidas, o caminho, a trajetória e a porta que você está abrindo para sua profissão é realmente de uma tortura, porque a visão que se tem é de insatisfação e principalmente de um clima de desarmonia. Em perspectiva contraria, quando você joga bola com pessoas competentes, você ergue o troféu com elas. Porque o desejo de aprender, de superar expectativas e o gostinho mágico da vitoria está sempre presente. Agora, diga-me com quem andas que eu te direi quem és. Com quem você anda?
RH - Quais as consequências que um "trabalho torturador" acarreta tanto no campo pessoal quanto profissional?
Dalmir Sant'Anna - Acredito que há profissionais que negam tentar algo novo, pois o medo de falhar estará refletindo em fracasso. Mantém-se numa atmosfera de comodismo, numa zona de conforto e constantemente apresentam somente reclamações. O poder destrutivo no medo ocupa na mente do ser humano um significativo espaço que deveria ser de alegria, de esperança e desejo de descobrir algo novo. Não permita que o brilho do seu talento, das suas competências e do desejo de vencer, seja maior que o seu medo.
RH - Profissionais que exercem cargos de destaque na empresa também são vitimados pelo "trabalho torturador"?
Dalmir Sant'Anna - Perfeito. Indiferente do cargo, do setor de atuação e da região, qualquer ser humano pode ser vitima de um trabalho torturador, desde que ele não encontre satisfação no que faz. Quando eu pergunto a um professor o que ele faz, eu espero que antes de responder, ele tenha brilho nos olhos, demonstre paixão e aí responda a minha pergunta. Parece interessante, mas quando eu pergunto a um servidor público o que ele faz, ao contrário de responder a função que ele exerce, responde "Ah, eu sou servidor público". Quando ao contrário, deveria mostrar qual é sua área de atuação, qual o seu papel nesse compromisso contínuo de servir a uma comunidade, de servir a várias outras áreas de atuação.
RH - A postura das empresas pesa significativamente, para que o profissional veja seu trabalho como um "carma"?
Dalmir Sant'Anna - Não, eu não acredito que as empresas direcionem seu trabalho como um carma. Acredito que o grande desafio atual dos profissionais de RH está direcionado em encontrar satisfação. Por isso não há um plano único de motivação para todas as empresas, não existe um pacote fechado que você implante em diversas organizações. Hoje como estudioso de Gestão de Pessoas, eu percebo cada vez mais que os profissionais de RH estão direcionando seus olhares, seus esforços e seus entendimentos a respeito da diversidade nas organizações. Não acredito mais em uma liderança pautada em cima do chicote, mas acredito em uma liderança que gera resultados por meio do contentamento, do diálogo e da aproximação entre líder e liderado.
RH - No caso das organizações que contribuem para esse quadro de falta de motivação, mas que desejam reverter quais os primeiros passos para mudar essa situação?
Dalmir Sant'Anna - Acredito que um primeiro passo importante é o reconhecimento, estamos perdendo vários profissionais nas organizações não por salário, mas por falta de reconhecimento. A gerência faz reunião para cobrar meta, faz reunião para rever o planejamento estratégico, para cobrar o uso de equipamentos de proteção individual, faz reunião para cobrar uniformes. Mas eu pergunto, quando dá certo, quando há a conquista de uma meta, o que a empresa faz? Veja, há falta de reconhecimento. O ser humano está esquecendo-se de agradecer, ele está esquecendo-se de elogiar as pessoas à sua volta quando elas conquistam uma vitória. A psicologia nos ensina que quando o ser humano recebe um elogio ele busca fazer sempre o melhor, há um estímulo intrínseco para gerar uma motivação. Agora você leitor, o que está fazendo para gerar uma maior motivação, que tipo de elogio e reconhecimento está fazendo na sua empresa?
RH - Que orientações o senhor deixaria para quem leu essa entrevista e sente que seu trabalho o está consumindo e virou um pesadelo?
Dalmir Sant'Anna - Acredito que a vida não começa quando se nasce, pois o conhecimento não está totalmente formado no indivíduo. Acredito que a vida realmente começa quando o ser humano desperta. Desperta para mudanças, desperta para entendimentos da existência da diversidade, desperta para a vontade de reconhecer o talento, o brilho e a vitória das pessoas que estão à sua volta. Quando o trabalho vira um pesadelo, o ser humano entra nessa atmosfera de descontentamento, não há perspectiva de vitória. O ser humano perde as oportunidades que estão à sua frente. Veja, quando o indivíduo mantém uma visão tubular, ele olha dentro de um tubo e vê o que está do outro lado, mas de uma forma micro, de uma forma limitada. Ou seja, as oportunidades diminuem. Agora, quando o indivíduo sai dessa atmosfera e tem uma visão de 360 graus, as oportunidades surgem de um jeito diferente. Lembre que a principal pessoa responsável por fazer a diferença na sua vida é você leitor. Ninguém fará você feliz, o principal responsável pela sua felicidade é você, então mãos à obra.
Por: Patrícia BispoFormada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap.
rh.com.br
Comunicação LCA Treinamentos & Consultoria
Comunicação LCA Treinamentos & Consultoria
Nenhum comentário:
Postar um comentário