por Cléia Schmitz
Norival e Jardel são a prova de que para se dar bem nos negócios e enriquecer não é preciso ser ganancioso e mesquinho
Amigos de infância criados no campo, Norival Bonamichi e Jardel Massari não são homens de meias-palavras. Quando perguntados sobre o que os motivou a fundar, em 1987, a Ourofino Agronegócio, eles admitem: “A verdade é que queríamos ganhar mais dinheiro porque nossos salários não chegavam ao fim do mês”. O fato é que no terceiro mês da Ourofino eles já haviam triplicado suas rendas e, dois anos depois, ganhavam dez vezes mais. Foi então que o perfil empreendedor passou a falar mais alto. Os sócios não pararam mais de empreender e, hoje, administram um grupo que planeja faturar R$ 1 bilhão antes mesmo de completar três décadas.
Norival e Jardel nasceram em Inconfidentes, pequena cidade rural do sul de Minas Gerais, na época distrito do município Ouro Fino. Cresceram entre lavouras e animais, acordando antes do sol nascer para lidar com a terra e o gado. Adolescentes, foram juntos para a antiga escola agrícola de Muzambinho, também em Minas. Após a formatura como técnicos em Zootecnia, seguiram destinos diferentes. Norival foi trabalhar na Nestlé, onde prestou assistência a produtores de leite da companhia. Três anos depois, administrou duas fazendas de gado em São José do Rio Pardo (SP). Enquanto isso, Jardel trabalhou no Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Os dois se reencontraram cinco anos depois, quando Norival chamou o amigo para trabalhar com ele na Socil, empresa de nutrição animal. Entre 1982 e 1987, foram supervisores de venda da marca na região de Ribeirão Preto (SP). Nessa época, decidiram voltar a estudar e optaram pela faculdade de Direito. “Foi muito importante porque aprendemos que as oportunidades nos são de direito”, afirma Norival. Em 1987, convictos de que “valiam mais do que o mercado lhes pagava”, pediram demissão da Socil e abriram uma empresa de representação de produtos veterinários com o dinheiro do seguro-desemprego, algo equivalente a R$ 50 mil.
“Hoje isso não seria mais possível. Não faríamos nem com R$ 50 milhões”, calcula Jardel. Quem anda pelas unidades produtivas da Ourofino, instaladas em uma área de 180 mil metros quadrados em Cravinhos, cidade vizinha de Ribeirão Preto, entende o porquê. As instalações, que estão entre as mais modernas do País no segmento, atendem a rigorosas normas nacionais e internacionais para a produção de medicamentos veterinários. São exigências de biossegurança inexistentes em 1990, quando a Ourofino começou a fabricar seu primeiro produto, um antibiótico para aves e suínos. Na época, o negócio funcionava numa casa alugada de 500 metros quadrados no centro de Ribeirão Preto.
A empresa foi crescendo junto com a cidade e, em 2005, se transferiu para a atual sede, às margens da Rodovia Anhanguera. “Por aqui passa grande parte do PIB do Brasil”, diz Norival, apontando orgulhoso para a estrada vista da janela de sua sala. Com o novo espaço, as possibilidades começaram a se multiplicar. O Grupo Ourofino tem hoje em seu portfólio mais de 100 produtos, incluindo vacina para febre aftosa, terapêuticos hormonais e outros medicamentos destinados a bovinos, equinos, ovinos, caprinos, aves e suínos. Para Norival, é o resultado de uma estratégia focada em inovação e tecnologia, área que recebe 6% do faturamento da empresa.
O desempenho da Ourofino é mesmo invejável. No ano passado, em meio à crise mundial, a empresa cresceu 25%, fechando o período com faturamento de R$ 221 milhões. É pouco para os planos de Norival e Jardel, que querem chegar a R$ 1 bilhão em 2015. Para alcançar a meta, eles seguem aplicando os mesmos princípios do começo do negócio: reinvestir o lucro. Pensando assim, inauguraram no primeiro semestre deste ano a Ourofino Agrociência, uma fábrica para produção de herbicidas, fungicidas, inseticidas, espalhantes adesivos e óleo mineral. A nova unidade foi construída em uma área de 250 metros quadrados em Uberaba (MG) e demandou investimentos de R$ 200 milhões. Para isso, em 2007 o grupo fez parceria com o BNDES, que detém 15% da empresa.
“Enquanto o mundo fala de preservação ambiental, o Brasil tem por obrigação dobrar a produção de alimentos sem derrubar uma árvore. E só se faz isso adotando tecnologias de produção. Por isso, nós estamos nos preparando para ser um dos três maiores fornecedores do agronegócio brasileiro. E entre eles queremos ser o primeiro”, afirma Norival. O empresário não se conforma com o índice de 95% de importação dos ativos que compõem as fórmulas de defensivos agrícolas vendidas no Brasil, um mercado que movimenta R$ 12 bilhões por ano. Para ele, é obrigação dos empresários brasileiros investir no desenvolvimento de tecnologia nacional para diminuir o que ele chama de “dependência estrangeira”.
De certa forma, a empresa já conseguiu fazer isso com o mercado de produtos veterinários. Norival recorda que, durante muito tempo, achava-se que produto bom precisava exibir a chancela de laboratórios estrangeiros. Hoje, a Ourofino tem 12 mil clientes no Brasil, exporta para 30 países e se prepara para começar a atender ao exigente mercado norte-americano. O objetivo é seguir a mesma trajetória no segmento de defensivos agrícolas. “Nós somos a empresa que vai mudar essa história e acabar com especulações como a de 2008, quando os preços dos fertilizantes subiram 80% de uma hora para outra sem motivo algum”, destaca o empresário.
Faro fino
Outro segmento na mira de Norival e Jardel é o de suplementos alimentares humanos. A Ourofino lançou recentemente a marca Ethika, incluindo proteicos, energéticos, vitamínicos, minerais e shakes. A fábrica, localizada em Uberaba, tem capacidade para produzir 300 toneladas ao mês. Os planos são ambiciosos: fechar 2010 com faturamento de R$ 18 milhões e iniciar em breve a exportação. “Decidimos investir nesse mercado por uma questão de oportunidade. O segmento de qualidade de vida ainda é muito regulado, mas vai crescer bastante e nós queríamos colocar um pé para marcar presença desde já”, afirma Norival. Sem dar detalhes, ele adianta que pretende fazer o mesmo com o mercado de nutrição animal.
Com tantos negócios novos, é surpreendente a calma e a disponibilidade de Norival e Jardel para uma boa conversa. Estresse parece não fazer parte da rotina dos dois, que dispensam a gravata no dia a dia. A explicação pode estar numa estratégia que eles adotaram há algum tempo. “Cada negócio novo que criamos, colocamos grupos de diretores como sócios. É uma maneira de reter talentos. Além disso, o olho do dono engorda o porco”, conta Norival. Hoje, o grupo tem cerca de 25 executivos que são sócios minoritários – 0,5% a 1% de participação. A meta é chegar a 50 em 2005. “Não dá para fazer sozinho, então decidimos dividir para somar. Preferimos ter 80% de 200 do que 100% de 100”, explica Norival.
Ele parece mesmo estar longe de ser um líder centralizador. “Isso é coisa de gente avarenta e medrosa”, afirma o empresário. Adepto da filosofia do desprendimento, ele garante que sua preocupação como empreendedor não é engordar a própria conta bancária e diz que comprou sua primeira casa própria há apenas seis anos. Esse mesmo homem recebeu, em 2004, o prêmio de empreendedor do ano da Ernst & Young por obter a maior fortuna com o menor capital. “Hoje temos a plena convicção de que a Ourofino não nos pertence. É uma estrutura onde os trabalhadores constroem o próprio futuro e para seus filhos. Por isso, quando morrermos, a empresa vai continuar, independente de quem assumi-la”, conta Norival.
Sonhos de menino? Norival diz não lembrar deles. “Acho que era sobreviver e não ser picado por uma cobra”, brinca o empresário. Apesar das dificuldades de outrora, Norival e Jardel não esquecem das raízes. Há um ano e meio, fizeram uma horta gigantesca nos fundos da fábrica de Cravinhos. A produção é distribuída entre os cerca de 1 mil funcionários, que levam toda semana cerca de 15 quilos de verduras e legumes para casa. A propósito, a Ourofino figura nas listas das 150 melhores empresas para se trabalhar no Brasil. Os funcionários têm bons planos de saúde e odontologia, além de 14º salário e participação nos lucros. O transporte é feito por uma frota de micro-ônibus contratada pela empresa.
“Eu me orgulho muito da época em que fui empregado”, diz Norival, tirando a carteira profissional da gaveta da mesa de trabalho. “Mas sei que eles poderiam ter feito muito mais por mim. Por isso, tenho como princípio distribuir o que ganho com quem merece.” A seu favor ele também tem o conhecimento do mercado, acumulado em experiências como trabalhador do campo e vendedor de ração. “De agronegócio eu entendo. Sei a psicologia para conduzir e convencer o produtor”, afirma. Para se aproximar ainda mais do mercado, Norival passou a criar gado nelore e participar de feiras e leilões. “É uma ferramenta de relacionamento com os clientes, o nosso cartão de visitas para que o mercado possa fazer um juízo de valor da Ourofino”, explica. Em outras palavras, é coisa de empreendedor.
Bússula Empresarial
O que fazer
- Se quiser crescer, reinvista o lucro no próprio negócio. Retire apenas o necessário para ter uma vida confortável;
- Transforme os principais executivos em sócios da empresa. Aumenta o comprometimento e reduz o risco de eles irem embora;
- Faça de sua empresa um bom lugar para se trabalhar. Remunere bem seus funcionários e dê benefícios atraentes.
O que não fazer
- Não poupe investimentos em tecnologia e inovação. Para estar entre os primeiros, ofereça produtos de qualidade;
- Não ignore a realidade do seu cliente. Para vender, é preciso saber o que o mercado precisa e quais suas maiores dificuldades.
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